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6 de janeiro de 2023
São sempre muitas as maneiras de reagirmos a uma aula. São muitas as formas como somos afetados pela fala de uma palestrante. Liane Zink (IABSP) foi nossa convidada para falar sobre grupos e sobre o corpo do grupo na última sexta-feira, 25 de novembro, fechando magistralmente nosso ciclo de palestras de 2022. Falar de grupos é fundamental para uma instituição como a SOBAB que treina seus membros de forma grupal em workshops prático-teóricos e cuja Clínica Social tem como missão básica desenvolver o trabalho psicoterapêutico em grupos. Como nos lembra Liane, falar de grupos é fundamental porque somos gregários, animais de rebanhos. Porque vivemos em grupo.
Entretanto, rebanhos precisam de pastoras e pastores (no melhor sentido da palavra), visionárias e visionários que enxergam adiante e ajudam a assinalar um caminho. Liane é uma pastora nata. Não é por acaso que começa sua aula falando da necessidade de o grupo ter um holding, uma estrutura que possibilita formar uma confiança básica entre seus membros. Ela explica: “Confiança básica é a possibilidade que o grupo tem de se formar – de dar no social este abraço para poder se entregar ao trabalho individual de cada um.” Trata-se de trabalhar o indivíduo dentro do grupo e o grupo dentro do indivíduo. “Os grupos se quebram, se não têm holding.”
Não é suficiente ser uma boa professora. É preciso trabalhar a dinâmica do grupo. Holding é uma qualidade materna, é uma qualidade de quem amamenta, qualidade da (e não do) líder. Neste sentido, Liane é uma Vênus de Willendford. Em duas horas de conversa, traz exemplos claros de como ela pode, ao longo de 40 anos de carreira, colocar isto em prática. Ao falar de um grupo de formação que conduziu no Japão, Liane traz o exemplo contundente de como trabalhou uma paciente anoréxica. Como dar grounding para uma mulher que quase não tinha força para se manter de pé? “Coloquei ela nas minhas costas. Como uma índia mãe que carrega o bebê. Minha coluna era também a coluna dela. Passei quatro dias com esta mulher nas minhas costas. Não haveria outra possibilidade de eu trabalhar o grupo.” Isto é o papel da líder. Trabalhar o trauma (ou como preferia David Boadella, o drama) de um indivíduo é também trabalhar o trauma do grupo. Ao voltar ao grupo, este já estará modificado. Para trabalhar o evento que transforma o destino (cf. Gilberto Safra) é preciso primeiro enxergar este evento. Isto é papel da líder. Tal como queria Kurt Lewin ao postular sua teoria de campo, a ideia de que o comportamento individual não era um produto de eventos passados ou expectativas futuras, mas uma função da interação entre o indivíduo e seu ambiente atual ou “campo”.
Nesta interação indivíduo/ambiente, a líder se destaca. Desvenda alguns dos mistérios. Mostra alguns dos caminhos. Com grande maestria, Liane faz exatamente isso. Ela é o exemplo vivo de como uma boa liderança ajuda: a líder é como o mercúrio que é usado para amalgamar o ouro no garimpo. O corpo do grupo é indubitavelmente moldado por uma figura materna. A força do grupo é também a força da líder.
Guilherme B. Pacheco